quarta-feira, 8 de maio de 2013

Deve Portugal sair do Euro?

por
Luis Castela Jacques
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Assisti à Intervenção do Prof. João Ferreira do Amaral, no Museu do Oriente a 26 de Março de 2012, onde defendeu a saída ordenada de Portugal do Euro.

De um ponto de vista teórico e conceptual fazia sentido a sua abordagem, da saída ordenada de Portugal do Euro, mas tinha alguns problemas. O primeiro, os nossos parceiros europeus do Euro tinham de aceitar pagar essa saída ordenada, pois teria custos enormes para não haver perdas do Estado, dos bancos, das empresas e dos cidadãos. O segundo, com a desvalorização da moeda os produtos importados passavam a valer o dobro, pelo que poderia haver racionamento de combustíveis e falta de produtos alimentares. O terceiro, implicava um empobrecimento definitivo da classe média que não poderia, tão cedo, voltar a viajar para o estrangeiro. Voltarmos a ter uma desvalorização da moeda, inflação e juros altos não é nada que eu deseje para Portugal.

Assisti à intervenção do Dr. Vítor Bento "A crise do Euro - uma perspectiva" na
Fundação Gulbenkian a 30 de Novembro de 2012 em que abordou as razões da crise dentro da União Económica e Monetária, tendo em conta a existência de duas culturas, uma com moeda forte e outra com moeda fraca.

Ficou claro para mim, que a razão de Portugal não ter crescido na última década, não se deveu à nossa entrada no Euro, mas às políticas erradas dos governos e da classe política. O Dr. Vítor Bento já referiu que não há saídas ordenadas do Euro, pelo que, os custos seriam enormes para os portugueses e teríamos ainda mais austeridade.

O Prof. João César das Neves, no seu livro "As 10 Questões da Recuperação", aborda a pergunta "Devemos sair do Euro?" onde explica as consequências nefastas da sua saída e as implicações para a união monetária. "Existe ainda um último problema em sair do euro. É que a moeda única europeia é mais do que apenas uma taxa de câmbio fixa. Trata-se de um acordo inquebrável entre países, no quadro de uma união económica e monetária. Repudiar esse acordo ultrapassa em muito a licença para desvalorizar. Uma coisa é um ajuste cambial controlado, outra, o colapso da união monetária por ruptura. Se um país abandonar a zona euro sofrerá uma fuga de activos que deflagrará uma brutal desvalorização, com perda de acesso aos mercados internacionais. As vantagens para as suas exportações não compensariam a violenta explosão financeira, com estilhaços por toda a economia".

Na conclusão refere que para resolver o problema de competividade "A solução para isto não é abandonar o euro e desvalorizar a moeda. Até porque, se não soubermos viver num sistema de moeda própria, a economia sofre com alta inflação e instabilidade financeira, como aconteceu por cá antes de entrarmos no processo do euro".

Parece-me que a saída do euro seria um autêntico pesadelo e teria consequências imprevisíveis. Havia uma desvalorização brutal da nova moeda, com perda significativa dos rendimentos de trabalho, o aumento da dívida das famílias, empresas e do Estado, dificuldades acrescidas no financiamento do Estado e da economia com aumento dos juros e o mais certo era terminar num segundo resgate da troika com mais austeridade e desemprego.

2 comentários:

  1. Bom, se o drama for apenas não viajar para o estrangeiro...

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  2. Os combustiveis poderão não aumentar de preço pois o estado pode diminuir os impostos sobre os produtos energéticos, o mesmo para a electricidade.
    Os produtos importados não necessáriamente subirão de preço. Mas espera-se que sim para bem da economia portuguesa. Isto porque os preços são mantidos pelo valor trabalho, e o desemprego é um bloqueio a aumentar as taxas de lucro. Por outro lado, se compararmos os preços de muitos produtos importados ficaremos fascinados com a descoberta, em Espanha, França, Alemanha são mais baratos.

    Sim as consequências serão tão imprevisíveis quanto a despreparação, dai que seja urgente estudar todas possíveis ocurrências e chicoespertices e encontrar soluções para as minorar.

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